segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sobre a crise dos Estaleiros de Viana do Castelo e as LFC “Lanchas de Fiscalização Costeira”


Os últimos estaleiros navais portugueses estão em dificuldades. A rejeição do navio “Atlântida” pelo governo açoriano devido à sua incapacidade de navegar à velocidade contratada de 18 nós (a sua velocidade máxima é de apenas 16,6), um problema provocado por uma má concepção do navio que está a colocar em causa a viabilidade financeira dos ENVC pode representar o “golpe final” na empresa. Não são “apenas” 900 postos de trabalho que estão ameaçados. Depois da evaporação de extensos sectores da actividade industrial deste país, é agora o que resta (que já não era muito) do histórico sector da construção naval que agora querem deixar também deslocalizar?
O governo português não pode deixar morrer o estratégico sector da construção naval. Não com a extensa Zona Económica Exclusiva que temos: é patético ser um país atlântico, com tanto Oceano (e recursos submersos) e não ter um único estaleiro naval. Já basta não ter dos melhores portos da Europa (Lisboa e Sines) e não ter praticamente marinha mercante – abatida nas últimas duas décadas – mas não termos estaleiros é realmente demais.
A recusa do “Atlântida” é apenas um ponto focal que agravou a situação dos ENVC até ao ponto da pré-ruptura, mas a recessão global e a concorrência tantas vezes desleal dos estaleiros asiáticos e chineses contribuíram decisivamente para erodir a carteira de clientes dos estaleiros de Viana. Cabe agora ao Estado o essencial papel de salvar os últimos estaleiros nacionais dignos desse nome, compensando o dumping provocado pelos estaleiros asiáticos e a abertura de fronteiras que decorreu da entrada na UE. Actualmente, os ENVC dependem sobretudo de contratos militares, nomeadamente de 2 NPOs em fase final. O Estado tem o dever nacional de desbloquear a construção prevista dos dois NCP (Navios de Combate à Poluição) e colocar em andamento o projecto de construção de 5 lanchas de fiscalização costeira (LFC) e optar pela construção das 3 adicionais já previstas, de forma a garantir a sobrevivência dos estaleiros até pelo menos 2014. O projecto das LFC deverá ser realizado em parceria com um estaleiro alemão, de forma a evitar os problemas sérios de concepção que afectaram a construção do “Atlântida”. No total, estes contratos representaram mais de 500 milhões de euros e são essenciais à sobrevivência dos ENVC, importa assim que parem com as hesitações e que se prossiga no rumo (lento) da substituição dos nossos meios navais, obsoletos ou raros na sua generalidade por meios modernos e fabricados em Portugal.
Mas mesmo que o governo desbloqueie o projecto dos LFC e decida iniciar a construção dos NCP isso não resolve a totalidade do problema dos ENVC, já que estes projectos ocupariam apenas metade da capacidade industrial dos estaleiros… encomendas civis precisam-se… Navios para a Marinha Mercante que deixámos deslocalizar, para as Pescas que deixámos que a União Europeia nos destruísse, etc, etc… Algo que tem que mudar rapidamente, já que desde 2007 que os estaleiros não assinam novos contratos com entidades civis! Há que esperar que a recessão global passe e que regressem as encomendas, criando mecanismos de estímulo à reconstituição de uma marinha mercante e de um sector pesqueiro de longa distância verdadeiramente nacionais, que passados que sejam estes anos de crise (onde a construção militar terá que suprir este hiato) as encomendas regressem e se assegure a sobrevivência desta empresa crítica para os interesses nacionais.
Sou completamente de acordo que se salvem os Estaleiros de Viana do Castelo, mas foda-se, eles mesmo assim só fazem merda nas construções...
Veja-se o caso do Atlândida, dos NPO´s.
Se querem ser salvos, ao menos que façam o esforço para que o que fica nos contratos seja cumprido.

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