segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sobre o Ermamento de Portugal

“Há poucos dias, Seth Kugel escrevia, nas páginas do New York Times, uma reportagem sobre o desconhecido Norte de Portugal. Ao falar das pequenas vilas e aldeias, escrevia: “elas são encantadoras, com toda a certeza, mas estão também claramente a morrer”. Ou seja, os jovens são escassos e a maior parte das casas são utilizadas como residência de ferias. Todos lhe contaram a mesma historia: as quotas da União Europeia e os subsídios para não cultivar destruíram a agricultura. Como resultado, os filhos dos agricultores foram para as cidades estudar. O pior é contado ao jornalista por um local: “isto levou a uma perda cultural incalculável. Milhares de anos de tradição e conhecimento perderam-se nos últimos 40 anos”. Poderíamos acrescentar a célebre ASAE e às invenções que destruíram o interior e a sua cultura, quando foi pelo País fora fechar pequenas casas de pasto familiares, em nome da modernidade e de cumprir o que o burocratas de Bruxelas que só comem hamburgueses.”

Não é só o interior de Portugal que está a morrer. Com ele, morre também todo o Portugal que deu mundos ao mundo e que revelou à Humanidade uma dimensão global que ela até então, desconhecia. Não pode haver Portugal sem uma sustentação alimentar básica, sem uma rede de portos costeiros, capazes de enviar embarcações de pesca para o Mar português, nem campos agrícolas activos e amplamente disseminados ao longo do território interior que possam completar o défice alimentar luso e preencher com produção nacional aquilo que hoje (em mais de 60%) se importa de Espanha e França. Reocupar o Interior é assim uma necessidade imperativa que advém da necessária autonomia económica, do imperativo combate ao desequilíbrio da balança corrente de pagamentos e até da própria soberania nacional, já que um interior ermo é um interior vazio que convida à invasão por parte da sempre imperialista Castela-Madrid…

“O Estado continua a destruir inclementemente tudo o que há no interior: vias ferroviárias, centros de saúde, escolas. Agora que Portugal, por força da crise, poderia reencontrar o seu interior, o Estado encarrega-se de tornar isso impossível. Quem quiser regressar ao interior, para ter uma vida melhor e mais saudável (ainda que com menos produtos de consumo) vai deparar-se com a retirada do Estado e dos instrumentos essenciais que este deveria colocar ao serviço das pessoas que pagam impostos.”

As imposições da Troika aprofundaram ainda mais este ermamento assassino do Interior. A austeridade imposta pelo Estado e a consequente redução dramática dos serviços públicos prestados ao interior irão contribuir para um agravamento ainda maior do interior do território português.

“Poderão ser necessárias novas medidas de austeridade. Ou seja, adivinham-se mais impostos sobre aqueles que não podem fugir ao destino de quem trabalha por conta de outrem e não pode escolher paraísos fiscais para as suas poupanças. A época do salve-se quem puder, incentivada por esta sanha do Estado contra o que resta da sociedade civil, está agora a aniquilar o resto do pais e da sua memória cultural.”

Enquanto alguns retiram o seu Capital de Portugal e agravam ainda mais a grave crise económica que atravessamos (como o Pingo Doce), o país morre lentamente, esmagado por níveis de despesa insustentáveis e o interior esvazia-se de gente e actividade económica.

Como reverter esta situação dramática? O Estado tem que gastar menos, isso é certo, especialmente tendo em conta o estado tercializado da nossa economia. Mas pode também gastar menos pela descentralização, de pendor municipalista sem esquecer a imposição de um maior rigor e eficácia judicial contra a corrupção.

in Jornal de Negócios

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